A jarra partida

A jarra partida

Partiu-se a jarrinha, aquela jarrinha de flores pintadas à mão, tão elegante, tão graciosa que era o enlevo de todas as pessoas que passavam por nossa casa.

— Está na nossa família há séculos. Dizem que foi oferecida por uma rainha de antigamente a uma antepassada nossa — explicava a minha mãe, enternecida, a olhar para a jarrinha de flores pintadas.

Pois, mas partiu-se. Partiu-se em cacos inumeráveis que não há conserto nem cola que lhe valham. Quem foi o desastrado?

— Eu não — safou-se o Tiago. — Quando eu cheguei a casa, já a mãe estava a chorar.

O meu irmão Tiago ficou livre de qualquer suspeita.

— Eu também não fui — apressou-se a dizer o meu pai. — Quando eu cheguei a casa, já a vossa mãe estava a ser consolada pelo Tiago.

— Eu é que não fui — choramingou a minha mãe. — Tinha tanta estimação na jarrinha. Quando eu cheguei a casa, não havia cá ninguém e já a jarra estava partida em mil bocados. Por pouco que não desmaiava de desgosto.

— Só se foi o Bolinhas... — lembrou o Tiago.

O nosso gato Bolinhas desenrolou-se com muita dignidade e disse:

— Eu não fui nem tenho nada a ver com o assunto.

E voltou a enrolar-se e a adormecer. Ai, quem me dera ter podido fazer o mesmo!

ler...