Angela e o Menino Jesus

Angela e o Menino Jesus

Quando Angela, a minha mãe, tinha seis anos, sentiu pena do Menino Jesus que estava no presépio da igreja de Saint Joseph, que ficava perto do lugar onde vivia. Pensava que o Menino tinha frio e perguntava-se por que motivo ninguém lhe punha um cobertor por cima do corpinho nu.

Não que ele parecesse infeliz: sorria para a mãe, a Virgem Maria, para S. José, e para os três pastores com cordeirinhos às costas, que pareciam bem quentinhos nos seus casaquinhos de pele. Mas, mesmo que sentisse frio, nunca se queixaria, porque o Menino Jesus nunca iria querer que a sua mãe se sentisse infeliz. A pequena Angela também sentia frio e fome com frequência, mas nunca se queixava, com medo de que a mãe, os irmãos e a irmã a mandassem parar com a choradeira. Haveria de encontrar uma forma de ajudar o pobre Menino Jesus, sem que ninguém soubesse de nada.

Alguns dias antes do Natal, Angela escondeu-se num confessionário, espreitando, de vez em quando, para ver se a igreja já estava vazia. Mrs Reid e Mr King estavam ajoelhados nos bancos da igreja a rezar, arfando e batendo no peito, e Angela perguntava-se por que razão não iam antes para casa, beber uma boa chávena de chá, bem docinha.

Quando espirrou, os velhotes assustaram-se, por não saberem de onde teria vindo o espirro. Cochicharam um para o outro que devia haver um fantasma na igreja e saíram dali o mais depressa que puderam. A pequena Angela esperou um pouco, para se certificar de que a igreja estava finalmente vazia. Só se ouvia agora o barulho de vozes na rua e os cascos dos cavalos no pavimento.

ler...